Dificuldade de compreensão??????
“Receite a lei anti-fumo”. Hã? “Receite” a lei? Como assim, receite a lei? Essas foram as curtas perguntas que vieram à minha mente quando ouvi o maquinista de um dos vagões do metrô de SP. E ele completou o enunciado, dizendo: “Não fume nas estações do metrô”. Após o complemento percebi que eu havia me enganado quanto ao que ouvi. Interessante: somente consegui refazer minha hipótese sobre o que havia ouvido – “respeite a lei anti-fumo”, e não “receite a lei anti-fumo” -, após o maquinista ter completado o que começou a dizer. Pelo sentido do enunciado completado, pelo contexto da situação em que eu estava inserida (o fato de estar dentro de uma estação do metrô, o fato de saber sobre a proibição do fumo em ambientes fechados, o fato de conhecer os males que o cigarro causa etc.), pude concluir que havia me enganado a respeito da palavra “receite”. Percebi que o maquinista não havia falado “receite”, mas “respeite“.
Situações como essa, de não compreensão seguida de reformulação, são comuns em nosso dia-a-dia. Gostaria de ressaltar que isso não tem nada de patológico, mas nos mostra que o ouvir e o compreender são duas atividades inter-relacionadas e não isoladas.
Na Fonoaudiologia, é comum observarmos o uso de testes com frases ou palavras sem sentido. Quando investigamos os procedimentos de testagem do chamado Processamento Auditivo (PA), por exemplo, observamos que os pacientes são inseridos em uma cabina acústica, com tarefas que não fazem sentido e recebidas através de um fone; não existe, assim, uma situação significativa para ouvir o que se ouve, bem como para o exercício da linguagem, ou seja, não existe um contexto, não existe um interlocutor e o que se ouve não faz sentido.
Vale ressaltar que há afirmação na literatura sobre Processamento Auditivo de que os testes não avaliam a linguagem, porém, em relatórios clínicos de avaliação do PA, afirma-se, por exemplo, que o resultado do teste (alterado) pode ser um fator gerador de dificuldades de compreensão, de escrita, entre outras (vejam, portanto, que a relação foi estabelecida).
Por desconsiderar a estreita relação entre audição & sentido/compreensão (afirmação que faço tendo em vista os “N” aspectos envolvidos no compreender), qual será a real validade dos testes de Processamento Auditivo para fins de avaliação e diagnóstico?
Pense nisso, leitor! Vamos compreender, primeiro, como a linguagem funciona antes de dizermos que alguém tem dificuldades para algo!
Guilherme Scalzilli diz:
agosto 28th, 2009 para 5:02 pm
A legislação antifumo é inconstitucional
A opinião é do Advogado-Geral da União, ministro José Antonio Dias Toffoli. Ele encaminhou parecer ao Supremo Tribunal Federal apontando “conflito de competências”, também chamado “violação da hierarquia normativa”. Isto é, o Estados e Municípios não podem legislar sobre assunto de alçada federal.
Mesma interpretação já fora antecipada pelo advogado Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira, em artigo para a Folha de São Paulo. Mesmo o arqui-conservador Ives Gandra Martins repetiu o argumento, adicionando que a canetada autoritária de José Serra dissimula uma tentativa irregular de proibir o cigarro.
Há objeções importantes também quanto à proibição de fumar em condomínios residenciais (e não apenas nas áreas abertas). O advogado Samuel Henrique Cardoso apontou que se trata de um atentado ao princípio constitucional de inviolabilidade do lar – argumento que, segundo ele, não se poderia utilizar para as propriedades comerciais.
Mas, estranhamente, as análises têm ignorado um aspecto doutrinário muito mais abrangente e profundo da inconstitucionalidade da lei. O veto aos fumódromos fere um direito fundamental do cidadão: a liberdade de trânsito, ou seja, entrar e permanecer em lugares onde possa fumar sem prejudicar não-fumantes.
O STF decidirá sobre a matéria nos próximos meses (se você achou que a questão estava encerrada, foi enganado pela imprensa). Será um ótimo termômetro da capacidade do Tribunal decidir sem contaminações ideológicas ou os rancores políticos de seu controverso presidente.
Juliana diz:
setembro 26th, 2015 para 2:27 pm
Olá Carla
Concordo com você. Trabalhei vários anos com atendimento de alunos com dificuldade de aprendizagem, e na época, qualquer dificuldade já era uma suposta dislexia ou tdah. Hoje, vejo crescendo absurdamente, e acredito que muitas vezes sem critério, o DPAC. Qualquer dificuldade, vamos aos testes de processamento… (eu até brinco -embora seja bem verdade – quem quiser abrir um consultório voltado ao PAC, tá feito!)
Já entrei numa cabine, na universidade, para sentir como eram os testes… eu mesma desisti no 10º item do SSW. Imagine uma criança! Os testes não são tão simples, além de cansativos. E justamente como vc falou, sem contexto.
Não acho que não tenham nenhuma valia, mas acredito que só tem função quando observada a criança como um todo, nos vários ambientes em que necessita “ouvir”, nas várias atividades acadêmicas ou não acadêmicas, as interferências do seu emocional, os estímulos a que teve acesso, etc. E também, não é somente através destes testes que podemos perceber quais as habilidades estão precisando ser trabalhadas/estimuladas. E nem tampouco as habilidades necessitam de terapia em cabine.
Também me questiono com relação à forma com que se tem feito os encaminhamentos e diagnósticos relacionados ao PAC.
Ter bom senso e um olhar verdadeiro para a criança/adolescente seria um bom começo.
Um abraço, Juliana
Carla Queiroz Pereira diz:
dezembro 11th, 2015 para 11:25 am
Obrigada pelo contato e comentário, Juliana!
Você tocou em um aspecto muito importante nesse contexto da aplicação de testes descontextualizados e equivocados para fins de diagnóstico: a abertura de mercado (você disse que “quem quiser abrir um consultório voltado ao PAC, tá feito”). E é isso mesmo! Como muitos fonoaudiólogos estudam quase nada a linguagem em funcionamento (não sabem nada ou quase nada de linguística), só voltando o olhar para a patologia ou o erro, testes como o do PAC caem como uma luva para quem está atuando de forma automática, pouco reflexiva e buscando o lucro! É ISSO MESMO! Não me cansarei de dizer, ainda mais agora, graduada também em Direito, que a aplicação de testes como o de PAC e sua associação com supostas dificuldades representam uma afronta ao direito à educação, à liberdade, à dignidade!
Obrigada pela sua contribuição preciosa ao blog!